Glória Farracha de Castro

Vivemos em um país bipolar, às vezes ainda sinto como se a Guerra Fria fosse uma realidade. Quando pensamos em alguém politizado é quase impossível dissociar: tal pessoal é de direita ou de esquerda? E talvez esse seja um dos maiores problemas da nossa sociedade, necessitamos desesperadamente de um posicionamento. 

E, não obstante, se posicionar é bom, é necessário, moldar nossas opiniões e visões. Mas não precisamos apelar ao extremismo. Hoje em dia, quando debatemos política, é quase imprescindível nos intitularmos de direita ou de esquerda. E isso gera abismos, cria inimizades, dificulta uma discussão saudável. 

Quando alguém se diz apoiador da direita, automaticamente assumimos que esse é elitista, amante da Lava Jato e contra o mecanismo das cotas, afinal acredita em meritocracia. E quando outro se diz apoiador da esquerda: assumimos que é comunista, contra a Lava Jato e fã nato de Karl Marx. 

Mas não precisamos criar tantos rótulos. Podemos diminuir os abismos. Basta entender que não necessitamos de um estereótipo para ter uma opinião política. Posso ser a favor do livre mercado e contra o Bolsonaro. Eu posso ser contra a desigualdade social e contra o comunismo. Eu posso ser apoiador das cotas em universidades e acreditar que o esforço ainda é o melhor combustível para o sucesso. 

Todas as vezes que nos restringimos a um rótulo, diminuímos nossas opiniões, nos fechamos. Acredito que um dos maiores problemas do atual século é que não discutimos mais para aprender, para ouvir; tentamos provar nosso ponto pessoal, discutimos para querer fazer com que o outro concorde com a gente. Quando na verdade, o grande significado de uma discussão, é justamente essa troca de informações, é se abrir para novas visões, é ouvir o outro. É aprender. 

Em uma discussão, o foco é ouvir o outro, estar disposto a mudar velhas verdades absolutas suas. Afinal, temos duas orelhas e uma boca por algum motivo. 

Por isso acredito, que não necessitamos desses rótulos, podemos ter nossas opiniões e reflexões sem nos fecharmos, sem nos limitarmos a conceitos. Acredito que discussões, ainda mais as políticas, devem ser flexíveis. 

É necessário abrir a cabeça, se desapegar das amarras que a política impõe. Não precisamos rotular tudo. Só assim serão possíveis diálogos realmente saudáveis e que tenham um impacto positivo na sociedade.